domingo, 22 de dezembro de 2013

Confiança no cuidado de Deus: em família

Imagem: Family por Bruno, usada sob CC BY-NC-ND 2.0

Por volta das vinte e uma horas meu marido me buscou no serviço e fomos direto para casa dos meus pais. Ao chegamos, reunimo-nos todos em família para conversamos sobre a situação delicada que minha irmã se encontrava. Estavam todos presentes do núcleo familiar: pai, mãe, cunhado, marido e eu. Meu sobrinho estava dormindo. Minha mãe contou todos os fatos ocorridos naquela tarde e enfatizou a frase dos médicos ao fim da visita a minha irmã, pedindo que ela esperasse a notícia sobre a necessidade de realizar a cirurgia. Dependendo de como o corpo dela reagisse naquela noite, talvez fosse necessário realizar a cirurgia às pressas. Se o telefone tocasse, algo relacionado a isso poderia ser dado como notícia. Não era comum que os médicos falassem que talvez entrariam em contato, pois quando o período de visita era encerrado, os familiares só poderiam ter notícia de seu ente internado na UTI por meio do boletim médico das vinte e duas horas, contendo breve e curta análise periódica do paciente. Raramente o hospital ligava para casa do paciente para transmitir alguma notícia.
Como família, aquela notícia nos deixava apreensivos. Então, reunidos, nós sabíamos que tínhamos que continuar orando e confiando no Senhor apesar de tudo. Uma situação nada fácil. Por alguns momentos conversarmos sobre como seria se minha irmã inevitavelmente viesse a fazer essa cirurgia ou como seria se Deus a quisesse levar. Claro que um pouco de tudo passava pela cabeça, mas em nenhum momento nós perdíamos o foco, pois estávamos sempre conscientes que Deus estava no controle de tudo. Entregávamos o desejo do nosso coração ao Senhor, pois naquele momento nossa oração era para que o cérebro da minha irmã desinchasse, que em nenhum momento ela precisasse fazer a cirurgia e que, assim, seu corpo fosse restaurado, completando a cura. Nosso grande desejo era que o Senhor fizesse o melhor segundo Sua vontade, e era para isso que intercedíamos.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Confiança no cuidado de Deus: reflexiva

Fonte: Reflectivo por jenlen, usada sob CC BY-NC-ND 2.0

No dia 2 de maio, enquanto minha mãe estava no hospital, eu estava no trabalho e aguardava ansiosa por notícias da minha irmã. Por volta das 19h eu estava voltando do meu horário de intervalo na biblioteca universitária onde trabalho quando encontrei o pastor que é cunhado do meu cunhado e sua esposa. Ela é aluna da universidade e tinha ido devolver alguns livros na biblioteca. Ela é a mesma que acompanhou minha irmã na ambulância no dia do acidente.
Ao nos encontrarmos, o pastor, acompanhado de sua esposa, amavelmente e calmamente contou-me que tinha ido aquela tarde ao hospital visitar minha irmã. Como ainda não havia conversado com minha mãe sobre como foi a visita daquele dia, o pastor me deixou a par dos acontecidos presenciados em sua visita. Então, ele me disse que durante sua visita a minha irmã, a equipe médica entrou no quarto da UTI para examiná-la e os médicos deram ênfase do caso dela ser delicado e que mesmo ela tendo apresentado boas reações, não significava uma melhora. O quadro dela continuava a inspirar muito cuidado e devíamos orar muito a Deus.
Conversamos um pouco a respeito de tudo que estava acontecendo naqueles últimos dias em nossas vidas.  Como família, nós estávamos vivendo momentos bem delicados, pois o pastor tinha a poucos dias voltado do enterro de seu pai. A sogra da minha irmã estava se recuperando da cirurgia de três pontes de safena pós-infarto e naquele momento analisamos o caso de tudo que aconteceu com minha irmã. Contei sobre o medo que tinha de perdê-la e algo que rondava meus pensamentos: o sentimento estranho de nunca na vida ter passado por situações tão difíceis, como a de alguém muito próximo ter morrido, ter uma doença grave ou uma situação como aquela que vivenciávamos. Após esse diálogo agradeci a ele por ter me dado notícias respeito da minha irmã e disse que sabíamos que deveríamos perseverar na oração.  Despedimo-nos e voltei ao trabalho.
Eu deveria sair do trabalho somente às 22h, mas naquele dia somente meu corpo estava presente. Minha mente volta e meia percorria os pensamentos sobre minha irmã. Conversei com uma de minhas colegas de trabalho sobre a situação delicada que ela se encontrava no hospital e vi o quanto eu estava frágil. Achamos por bem que eu fosse embora, não conseguiria mais trabalhar adequadamente naquele dia. Liguei para meu marido me buscar, logo em seguida liguei pra minha mãe e falei que sairia mais cedo e passaria em sua casa. Ela disse que eu fazia bem, que precisávamos conversar em família.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Confiança no cuidado de Deus: o toque

No momento que minha mãe ficou sozinha com minha irmã no quarto da UTI ela começou a refletir sobre a devocional que fez pela manhã no texto de João (9.1-7). Se Deus havia curado um cego de nascença para que se manifestassem nele as obras de Deus, da mesma forma Deus poderia usar a vida da minha irmã como instrumento vivo para que se manifestasse nela a glória de Deus.
Junto com a nossa família todos os irmãos da igreja estavam buscando a Deus em favor dela e acreditávamos que o milagre poderia ser feito. Então, minha mãe se curvou diante do nosso Deus Grandioso e clamou pela sua misericórdia e bondade, visto que Ele era o único que poderia operar o milagre sobre a vida da minha irmã. Em sua oração minha mãe pediu que o SENHOR desinchasse o seu cérebro e que se fosse essa sua vontade, que não a levasse. Ela pedia isso pensado em meu sobrinho, em como ele ficaria sem a sua mãe e na importância que a mãe tem em todos os aspectos e fases da vida. Se mãe é insubstituível, ela faria falta em seu desenvolvimento e formação como pessoa.
Durante a oração, com os olhos fechados, minha mãe sentiu minha irmã pegando no seu braço com a mão esquerda, a mão que não sofreu perda motora, ao perceber essa reação da minha irmã, minha mãe abriu os olhos e viu minha irmã balbuciando algo. Em seguida ela aquietou-se e voltou a dormir da mesma forma que estava antes.
Naquele instante, com o coração perplexo pelo que acabara de acontecer, minha mãe voltou a orar, vivenciando uma experiência inigualável, de forma que com o seu corpo tremendo ela sentiu que Deus estava respondendo as orações. Foi um momento único.
Minha mãe já estava no quarto da UTI há cerca de uma hora. Então chegou um dos pastores, cunhado do meu cunhado, e depois novamente a equipe médica para examinar o estado clínico da minha irmã. Iniciaram os mesmos procedimentos de antes, ao tocar na sola dos pés sentiram movimento diferente do anterior. Quando foi observar as pupilas, começaram conversar entre eles. Curiosa e um pouco ansiosa, minha mãe perguntou o que estava acontecendo. Um dos médicos então respondeu que a reação apresentada pelo corpo da minha irmã era um bom sinal. Minha mãe sentiu mais aliviada e mais confiante no SENHOR. Perguntou se poderia ficar no quarto da UTI mais algum tempo e responderam que sim.
O tempo limite de visitas na UTI é de somente vinte minutos e a equipe médica não permite os visitantes ficar muito mais tempo que isso. No entanto, nesse dia os médicos deixaram minha mãe ficar dentro da UTI cerca de duas horas acompanhando minha irmã. A impressão que ela teve é que o corpo médico a deixaram ficar mais tempo como forma de despedir da minha irmã, reafirmando que o caso dela inspirava muito cuidado, sendo esse o dia mais crítico. Contrariando esse sentimento, porém, minha mãe foi para casa completamente confiante no agir de Deus.

REFERÊNCIAS

João. Português. A BÍBLIA Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2. ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1999.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Confiança no cuidado de Deus: esperada visita

Logo após o encontro com a irmã da igreja, minha mãe renovou suas forças e entrou para a visita. Ao entrar no quarto de UTI, olhou para minha irmã e viu que ela estava num sono profundo. Chamou-a pelo seu nome, tocou-a suavemente, mas não houve nenhuma reação de sua parte, nenhuma resposta a sua interação. Logo chegou a equipe médica. Nesse momento meu cunhado não estava mais acompanhando minha mãe, pois teve que ficar com meu sobrinho do lado de fora da UTI. Crianças não tem permissão para entrar na UTI e o pequeno estava muito abalado e sensível com toda essa situação.
Portanto a equipe médica conversou somente com minha mãe. Eles voltaram mais uma vez a afirmar que o estado dela era muito grave pelo fato da lesão ter atingido uma grande parte do cérebro do lado esquerdo, que estava ainda muito inchado. A solução encontrada era uma intervenção cirúrgica, o que também era muito ariscado. Pela terceira vez ouvimos esse tipo de afirmação por parte da equipe médica. Em todas as oportunidades eles eram incisivos e diretos tentando alertar-nos e deixar claro o quanto a situação era delicada.
Pelo olhar da equipe médica minha mãe entendia como se eles quisessem transmitir a mensagem de que já sentiam muito pela perda da minha irmã. Inclusive a psicóloga da UTI chegou a oferecer apoio psicológico, e deixou claro sua preocupação com meu sobrinho. Chegou a dizer havia um padre que em breve estaria ali e que se ela quisesse, poderia dar a bênção a minha irmã. Minha mãe agradeceu e falou que ela já estava bem amparada pelos nossos pastores.
Durante a visita a equipe médica examinou minha irmã e disseram que dentro de uma hora voltariam para examiná-la novamente. De hora em hora os médicos a examinavam: olhavam as pupilas, davam batidinhas nos joelhos, nas solas dos pés passavam um objeto para ver se reagia, mas ela não tinha reação positiva.
Com a saída de todos, minha mãe pode ficar a sós com minha irmã. Apesar de sua falta de reação, sua esperança seguia sempre viva.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Confiança no cuidado de Deus: conforto e esperança

O dia 2 de maio em minha perspectiva pode ser considerado o mais crítico de todo esse período e o que mais abalou nossas estruturas. Por mais que a família visse o corpo da minha irmã reagindo ao visitá-la na UTI, os médicos sempre frisavam que seu quadro era considerado grave e delicado, devendo-se ficar sob estrita observação, com sério risco de morte. Afinal, ela ainda corria risco de passar pela cirurgia causada do inchaço do cérebro.
As visitas na UTI ocorriam sempre às 16h com período de duração de 20 min., sendo que por dia somente poderia entrar duas pessoas. Então, nosso núcleo familiar revezava cada dia para que cada um tivesse a oportunidade de ver minha irmã. Além das duas visitas, minha irmã era visitada pelos pastores de nossa igreja, tio e dois cunhados do meu cunhado que também são pastores. Como é sabido, sacerdotes tem autorização para ingressar no hospital a qualquer hora do dia e da noite para ministrar assistência religiosa, desde que autorizado pelo visitado ou por sua família. 
No dia 2 de maio meu cunhado e minha mãe foram visitar minha irmã. Como nesse dia ainda não tinha tido a oportunidade de realizar a visita vou compartilhar a experiência que minha mãe vivenciou. Ela relatou que ao chegar à sala de espera do hospital, notou a presença de uma querida irmã da igreja. Ela é uma profissional muito ocupada, portanto minha mãe ficou surpresa por ela ter deixado todos os seus compromissos para estar ali a sua espera. Como minha mãe nesse dia estava bem abalada, essa irmã, ao ver minha mãe chegando, já foi logo ao seu encontro, abraçou-na tentando a confortar. Ela disse que estava ali para a consolar e dizer-na para que não chorasse e nunca desistir de sua filha, pois minha irmã até poderia estar desenganada pelos médicos, mas nada era impossível para Deus. Visto que, algum tempo atrás Deus tinha curado sua filha de uma enfermidade muito grave, que também a havia deixado por algum tempo internada na UTI, mas Deus havia ouvido sua oração e da igreja e sua filha foi curada. Ela aconselhou minha mãe a fazer da mesma forma que ela fez com sua filha, dizendo que quando entrasse na UTI, era para ela se debruçar sobre minha irmã, e clamar a Deus em seu favor, de forma que sua oração, juntamente com a de todos que tinham o conhecimento do caso dela e que estavam intercedendo a seu favor dela. Ela disse que esperava que assim Deus haveria de ouvir e responder conforme Sua vontade.
Mesmo sem muitas boas notícias por parte dos médicos, seguíamos apegados ao que Deus não deixava faltar em nossos corações: a esperança.